sexta-feira, 14 de junho de 2013
quarta-feira, 12 de junho de 2013
ESSA SINCERA LITANIA
Alegro-me ao ver
que buquês de novo se vão para os amores
não como para as solidões
às quais chegarão, do encanto, os brotos verdes,
embora a elas diga,
que da tristeza se irá à alegria
pelo atalho da melancolia
erguendo o coração para receber novas flores.
Alegro-me ao ver rediviva e solene
a manhã alvoroçada de beijo e carícia,
a saber que Deus bem que poderia
aos que se têm um ou outro
estender a mesma dádiva a outros dias.
Alegro-me em sentir
o ar de perfume e presente
entregue à mão surpresa.
Isso me faz poesia: o amor geral, tácito, indigente,
por ele rogo benção, essa sincera litania.
Haroldo Leão
CERTA POESIA
ela
começa de um sorriso:
mas é preciso abri-la por meio de um beijo
depois ela cresce
cresce
como uma roseira acelerada
o ramo dos braços abre-se em lentos jardins
adiante
ela é um grito, muito,
muito baixo, um vento
espiral nos meus ouvidos
e quando as casas pedem apaguem-nos
ela: amanhece
claridade de sexo
a constelar meus olhos de nuvens, seios...
é quando as cabeças piscam sonhos
ela:
acorda-me as faunas
e não há o que a interrompa
após largar-se das pétalas
depois, muito depois, ela é um círculo
e coincide de novo
com a minha linha
Haroldo Leão
ela
começa de um sorriso:
mas é preciso abri-la por meio de um beijo
depois ela cresce
cresce
como uma roseira acelerada
o ramo dos braços abre-se em lentos jardins
adiante
ela é um grito, muito,
muito baixo, um vento
espiral nos meus ouvidos
e quando as casas pedem apaguem-nos
ela: amanhece
claridade de sexo
a constelar meus olhos de nuvens, seios...
é quando as cabeças piscam sonhos
ela:
acorda-me as faunas
e não há o que a interrompa
após largar-se das pétalas
depois, muito depois, ela é um círculo
e coincide de novo
com a minha linha
Haroldo Leão
segunda-feira, 10 de junho de 2013
AMAR
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
domingo, 9 de junho de 2013
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