sábado, 17 de agosto de 2013






UMA ESCULTURA PARA A ANGÚSTIA



de todo impossível,
uma pedra contém sorrisos,
destile-se o aço no olhar,

resta a contemplação,
a verdade de cor esquecida 
entre a montanha e o abismo

é grande deparar-se
com o amor primordial,
convite para além do lindo

mas físsil, ainda, 
descerra a sinceridade outra máscara
e o apego revela outro limbo

água na pedra:
o tempo esculpindo
a flor que o instante sugere

enquanto nos iludimos.
                                                                                                                       
                                              Haroldo Leão





quinta-feira, 25 de julho de 2013



por ora, melhor curtir o eclipse
isso que acontece à convite do acaso

coincidência dos atalhos  
que ninguém quis fazer

e o brinde mais rápido
que a extinção do caro segundo

era para ser outro mundo, uma vez...
e agora a gente pisa a terceira história

nada como a aleatória certeza
de que à mesa estamos meio tontos da verdade

porque rimos sem piedade
dos dragões que botamos para brigar

por ora, melhor curtir o eclipse
a paisagem entre as vidas possíveis e o esquecimento.

vamos pelo caminho paralelo
onde a lógica dá de ombros ao orgulho

mergulhemos no veneno das serpentes
lago do ódio onde o carinho 
não se fere nem consegue ferir.

por ora, dividamos o centavo de ouro
a estrela cadente, a lambida do vira-lata

e a flor atirada como bomba sem destino
na primavera de nossa dúvida.


Haroldo leão 





fecho os olhos para ver a vela

a vela fecha os olhos para me ver

abro os olhos da vela e me vejo

a vela abre os meus olhos


o vento apaga a separação



Haroldo Leão

sábado, 13 de julho de 2013














grato de minha criação
agora sou eu quem deve criar,

nas mãos cultivar o destino:
o arbítrio dos meus galhos

a raiz de minha história
para o fruto dos meus cuidados.



                                                           Haroldo Leão













quarta-feira, 10 de julho de 2013


O FOGO VENDO A PLANÍCIE

eu te desejo o fogo
que me acendeu agora este poema,
me lança como um dardo às frutas,
uma divina alegria enrodilhando-se na minha estatura,

me pega pelos cabelos
e mostra do cimos da vida
a vasta paisagem: o amor é uma praia
imediata a outros sentidos,      olha por ali entre os abismos
o caminho pacato que leva aos recantos sutis

planície: um dorso alvo desenhado no horizonte das ideias.

eu te desejo
essa brisa quente que me alimenta de luz
no quarto escuro,             esteja nu dos horrores da alma
quando este relâmpago
quiser movimentá-lo com fome para a vida
e fazê-lo desejar o beijo no sol, a claridade da lua,

venha o desgoverno bom na tua pele
de quem se lança chamejante como às frutas, 
a quem te busca como água, sedento.

eu te desejo as ideias
pensadas no silêncio da minha cama apontada para Deus,
quando vêm alegria pelos cabelos acendendo
o poema

tudo fica evolução, valsa, mantra, canção,
a palavra de gozo extasia-se silenciosa e sorri, inefável
traduzir o fogo que desejo a ti agora,

tenta apenas ser ateado
no coração por essa luz, o fogo resvala
do poema, entorna de mim de tanta alegria,

eu te desejo tanto o fogo
que as frutas te serão lançadas na direção da boca.
eu quero em ti, 
em tudo que espera com a mão em concha

o sangue retornando à veia, o fogo
que ergue a cabeça, mostra do alto da vida
onde o amor goza a paz mais longínqua


Haroldo Leão

FAZER



como quem faz as contas
fazer direito a cama.
não como quem faz de conta
que acordou
e não sabe quanto ganha.

como quem faz parte
fazer a vida.
não como quem pensa
que estar por fora
é a melhor saída.

como quem faz de um ato
saber de toda a razão.
não como fazer às cegas
das tripas coração.

como quem desfaz
a cama repleto
de estar existindo.
não como quem
outra vez adormece
sem saber que está vivo.



Haroldo Leão

terça-feira, 9 de julho de 2013











estranha força
que me arreda
para o sol,
vento sutil,

o golpe sem braço  
da vênus que sorriu

pedra que eu era
dardo que vou.




Haroldo Leão






segunda-feira, 17 de junho de 2013

RECEPÇÃO DA MANHÃ


Hidrata-me de novo
o creme da manhã: 
lavanda invisível.

Bálsamo carinhoso.
Porta derramando luz
na remela da treva.

Massagem, mixagem
de água entre os cabelos.
Escova, espuma, sorriso.

Oração, galo, 
janela abrindo braços,
pão inaugurando a vida...


                                              Haroldo Leão

sexta-feira, 14 de junho de 2013












palavras não cozinham o arroz.


                                                     

quarta-feira, 12 de junho de 2013



ESSA SINCERA  LITANIA


Alegro-me ao ver 

que buquês de novo se vão para os amores
não como para as solidões
às quais chegarão, do encanto, os brotos verdes,

embora a elas diga,
que da tristeza se irá à alegria
pelo atalho da melancolia
erguendo o coração para receber novas flores.

Alegro-me ao ver rediviva e solene 
a manhã alvoroçada de beijo e carícia,
a saber que Deus bem que poderia
aos que se têm um ou outro 
estender a mesma dádiva a outros dias.

Alegro-me em sentir
o ar de perfume e presente
entregue à mão surpresa.
Isso me faz poesia: o amor geral, tácito, indigente,  
por ele rogo benção, essa sincera litania.



                                                                                      Haroldo Leão
CERTA POESIA


ela
começa de um sorriso:

mas é preciso abri-la por meio de um beijo
depois ela cresce
cresce
como uma roseira acelerada

o ramo dos braços abre-se em lentos jardins

adiante 
ela é um grito, muito, 
muito baixo, um vento 
espiral nos meus ouvidos 

e quando as casas pedem          apaguem-nos
ela: amanhece
claridade de sexo  
a constelar meus olhos de nuvens, seios...

é quando as cabeças piscam sonhos
ela: 
acorda-me as faunas

e não há o que a interrompa
após largar-se das pétalas

depois, muito depois, ela é um círculo
e coincide de novo
com a minha linha



                                                                              Haroldo Leão 

segunda-feira, 10 de junho de 2013


AMAR
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
                                                                    Carlos Drummond de Andrade 

domingo, 9 de junho de 2013









poesia em construção.

quinta-feira, 6 de junho de 2013




a culpa não renova, limita.
não educa, contém.


sábado, 1 de junho de 2013



DITOSO FAZER

Eu te faria
Um filho
Uma matilha,
Um templo,
Uma sinfonia,
Um palácio
Na tua mulher.

Prole de ais
de jeito estranho
Faria
Uma flor,
Uma estrada,
Na parede
Onde vingam
Teus sóis
Afresco secreto
Pixar
Um poema
Um love raikai.

Faria um
ninho de aliança
Cozer no teu
Limbo
Ambrosia
Safado
sagrado licor

Faria
Sem nada
Sem Vênus
com eros
Agora
Na hora da ânsia
Vazar
No futuro
Recado legado
do passado avô.

Faria
Com pressa
Prestíssimo
nas estações
Salsa, tango
dançar
para Nietsche
 a nossa canção.

Tempero
na carne amada.
Faria
Um palavrão
Uma prenda
Uma lenda
Posição
De um Deus
Varado
De boa ira

Faria
Comida
temperar
tua carne
um vinho
De midas
Ouro
Da fauna
do sonho
de louco
semeador

Ou mesmo
Morreria
De novo
Na poesia
Ouvir na concha
Do teu mar
monossílabo
marulhar
Espasmo lindo
De quem
Pare o amor
Sem pudor
De ser feliz.

                       Haroldo Leão




Saudade é não dizer que a senti?
É ficar sentindo em si, o que outro
não sei se da mesma dor se premi?
Saudade é quando o corpo fica

Mais além do corpo diariamente
À procura de saber o que não se publica
Querer ir ao outro para, frente a frente
Vê-lo, sentir abraço, beijo e guarida....

Saudade: melhor nunca matá-la simplesmente
E fazer em si uma fé, desapegada certeza
Que o outro more em nós sem egoísmos

Que amar é sentir sem se jogar em abismos
Que amar é sentir o ausente pela beleza,
de longe enviar carinho e amor silente



                                                                                  Haroldo Leão

sexta-feira, 31 de maio de 2013







convida os teus dragões para dançar.




POEMA DESPRETENSIOSO DA PISCINA

E se eu ficar quadrado 
no feriado, com cara de quem é d’água
e com os olhos azulejados,
não se espante, pule na minha ideia!

poema é um refresco fácil
(e sem cloro para os cabelos), 
as palavras que boiam, suaves,
hão de lhe deixar à vontade
contando os aviões da cidade
enquanto saborear um gole de paz.

Amanhã é outra história,
Pula na minha ideia, saia de si
de camiseta, pega a bicicleta
e vai por minha atlântica 
Além do canal careta de televisão.

Se você me vir quadrado,
não se aprofunde, um mergulho
não precisa ser uma expedição abissal,
relaxe e curta o fundo
azulejado dos meus olhos rasos.

"LEGALAIZE" a pressão aqui nas minhas ideias.
Esteja à vontade para ver sereias...
caras areias de Cancún,
a bronze carne de ibiza,
vá ver se estou em Ramos
ou qualquer abastado piscinão.

Se eu ficar quadrado na sua frente
Invente logo o seu motivo,(um paraíso!)
Troque de humor, bote biquini,
Sunga, molhe-se na minha estância.
E da panorâmica sob os óculos escuros,
não desça daí, continua aí à toa,
viver pode ser de bobeira
um nado livre(uns versos brancos) numa boa.


                                                    
                                                                                 Haroldo Leão
CADENTE

eu queria que a dor
fosse uma estrela cadente
que ao senti-la
já desaparecesse, num instante.

mas essa do amor
quando o outro se vai com a metade
faz a gente ver a mesma estrela
durando um dia, uma noite, uma eternidade.


                                                                    Haroldo Leão

quarta-feira, 29 de maio de 2013





no desprezo, o afiado carinho
há de tornar-se medroso
e de carinhoso, passar a ser bruto,
mordida, em vez de beijo?

No áspero ouvido que ama,
mas evita, sofre o apelo
que mais se afia, em tornar-se
silente, ter consigo sábio zelo.

Vai se doer como ao viver
aquilo que guardo em segredo.
a chave, quem tem, sabe abrir,
achá-la bem sabe no degredo.

                                              Haroldo Leão













terça-feira, 28 de maio de 2013






ACENO

o carinho afiado
desliza o afago
à distância do acariciado.


Haroldo Leão







AFIAR O CARINHO




no desprezo, o afiado carinho
há de tornar-se medroso
e de carinhoso, passar a ser bruto,
mordida, em vez de beijo?

No áspero ouvido que ama,
mas evita, sofre o apelo
que mais se afia ao tornar-se
silente, ter consigo sábio zelo.

Vai se doer mais sabido
aquilo que guardo em segredo.
a chave, quem tem, sabe abrir,
e achá-la bem sabe no degredo.




                                                           Haroldo Leão

domingo, 26 de maio de 2013




ZEN JARDIM

                                    DIÁRIO DE UMA VIAGEM 
                                    AO INTERIOR DE MINHA CASA, 
                                    FOTOGRAFANDO...25/05/2013





arranquei do tempo
um instante da rosa,
ela continuou ligada à terra,
sorrindo como a tarde.
meu coração estava longe...
e a flor que pousava ria de mim 
como um silencioso monge.


                                             Haroldo Leão


Haroldo leão/ arquivo pessoal.




TROPEÇÃO


descubro-me de novo num tropeço,
na queda em mim mergulho e vejo

que a pele que tudo sente por dentro
Tem a dor da qual por descuido esqueço

a despeito do que é me ver assim narciso
sou de pensar que nunca tive  avesso.



                                                                 Haroldo leão

                                                            

sábado, 25 de maio de 2013



TAREFA

como sorrir para si
se a boca é virada para fora?
como se ver sorrindo
sem o auxílio de um espelho
que pode mentir?
como fazer cócegas
no coração? Botar uma pena
na boca até o neurônio dar uma gargalhada?
quem sabe em silêncio,
em meditação, contar uma
piada atrás dos dentes,
e o gozo da alegria 
em si mesmo provocar, discretamente.






                                                                                          Haroldo Leão

terça-feira, 21 de maio de 2013



o que faz bem sendo o bem
maior que o prazer,

invisível ao querer ávido,
posse, não. é instante,
sempre nova descoberta,

nunca chato, tem o relevo
do abraço e do tesão, também
a devida planície, colo exato.

na simples conversa
com quem se troca mínimos
reside um tom companheiro.

instiga, mas se abranda o
auge em carinhoso zelo.

     
                                       Haroldo Leão

segunda-feira, 20 de maio de 2013






O ÓBVIO ÁUREO  



Coragem, amor e perseverança.




                                                        Haroldo Leão


                            


                                                          


 

segunda-feira, 13 de maio de 2013



O FILTRO DO CUIDADO



Eis a dor pura e fina 
como o fio da ternura
que, suave, divide os dias,
enfim me alheia da paixão:
de olhos egoísta, essa menina.

E vou parar nas manhãs
onde inexiste pronta acolhida.
é sangrar-se como mina,
da amada, a saudade do amor
de cuja cura se carece, mas se evita.



                                    Haroldo Leão